Tudo aconteceu em menos de 5 minutos, mas na memória de Edvânia Nayara
Ferreira Rezende, de 23 anos, a dor e a indignação com as agressões
sofridas neste sábado (17), quando levou socos e chutes do marido de uma
delegada em Três Corações (MG), devem permanecer. "Ele não merece
perdão", disse a segurança, que estava no horário de trabalho em um
clube e tentava prestar socorro à esposa do suspeito, identificado pela
PM como sendo o comerciante Luiz Felipe Neder Silva.
"Quando ele veio para cima de mim, eu fiquei com medo. Tanto que eu
encostei no carro e foi por isso que ele conseguiu me acertar. Eu não
tinha para onde fugir. Mas quando eu caí no chão, eu queria voar nele.
Eu só não parti para cima dele porque não deixaram", relembra. "Não
importa se ele estava bêbado. Não tem como justificar o que ele fez",
afirma sobre o agressor, que foi autuado pela Polícia Civil por lesão
corporal e permanecia preso neste domingo (18) no Presídio de Três
Corações.
(Foto: Arquivo pessoal/Edvânia Nayara)
Imagens da agressão divulgadas em redes sociais e na internet mostram o
momento em que a vítima é abordada pelo homem. O comerciante pede a
chave do carro, que havia sido jogada para a segurança pela delegada,
que queria evitar que o marido dirigisse.
"O carro dele passou por mim", relembra Edvânia, que estava em uma área
próxima à piscina do clube. "Nisso, ele parou mais à frente. Eu não sei
se ela pulou do carro, mas ele desceu atrás dela e começou a puxá-la
pelo cabelo para que ela entrasse no carro. Aí eu saí atrás e disse que
iria chamar a polícia. Foi então que ela jogou a chave do carro para
mim. Eu me livrei da chave e ele veio me dizer que estava com vergonha
dela, que queria levá-la para casa, mas, como eu neguei entregar a
chave, ele me bateu", afirma.
A sequência de imagens choca.
Após gritar com a segurança, Luiz Felipe desfere um soco no rosto dela.
Edvânia cai, é puxada pelos cabelos e leva um chute na altura da
cabeça. Só então o agressor se afasta e a vítima é amparada por algumas
pessoas. Ele é preso minutos depois pela Polícia Militar. (Clique aqui para ver o vídeo.)
De acordo com o boletim de ocorrência, registrado pela Polícia Militar
por volta das 18h, a mulher do suspeito, identificada como Ana Paula
Kich Gontijo, de 44 anos, saiu do local antes da chegada dos policiais.
No entanto, o boletim informa que ela entrou em contato com a PM cerca
de 1h depois confirmando ter sido agredida.
O G1 tentou contato com a delegada e com algum
representante do marido. No entanto, até esta publicação, ninguém havia
atendido as ligações ou retornado os pedidos de entrevista.
Edvânia se tornou segurança há um mês. Depois de vender sua parte na sociedade de uma lanchonete, esse foi o emprego que ela encontrou. Sabia dos riscos, mas nunca pensou que vivenciaria uma situação como a de sábado.
"Nunca sofri qualquer tipo de agressão. A gente sabe que, quando está
em um trabalho assim, tudo pode acontecer, mas a gente nunca acha que
vai ser com a gente. Agora eu estou me recuperando, depus na delegacia,
fui medicada. Tô com o corpo bem inchado ainda. Se ele [o agressor] está
acostumado a bater em mulher, comigo é diferente. Não vou deixar ficar
por isso mesmo", garante a segurança.
O motorista de caminhão Enioberto José de Jesus, de 30 anos, também disse ter sido agredido pelo comerciante. Sócio do clube, ele estava de saída do local quando se deparou com Edvânia caída no chão, recebendo um chute.
"Ele estava chutando o rosto dela. Foi quando ele saiu de perto dela e
sacou um canivete para um outro segurança. Eu fui pedir para ele
acalmar, porque ele estava muito nervoso", cont, recordando que Luiz
Felipe foi se tornando cada vez mais agressivo. "Aí eu fui sair de
perto. Quando eu saí de perto, que eu virei para buscar meu carro, ele
foi e me acertou um murro de lado, pegou eu costas, saindo assim e me
acertou um murro na boca." Enioberto perdeu dois dentes.
(Foto: Reprodução/Redes Sociais)
Segundo Fabiana Custódio, de 21 anos, que também é segurança do clube e
foi sócia de Edvânia, o agressor e a mulher não era sócios do local e
estavam lá a convite de um aniversariante. Ela se lembra que a colega
pediu apoio pelo rádio-comunicador. "Ela disse que um casal estava
brigando na direção do estacionamento e que o homem batia muito na
mulher. Depois disso, minha colega não respondeu mais. Quando cheguei
lá, ela já estava no chão."
Por telefone, a direção do Clube Atalaia, onde as agressões ocorreram,
disse que não iria se pronunciar sobre o caso neste domingo. Na
Delegacia de Polícia Civil, ninguém quis comentar sobre as
investigações.
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