O
Governo do Estado e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) estão coordenando ações inovadoras de execução do Projeto de
Biofortificação de Alimentos no Maranhão. A meta é fortalecer a
segurança nutricional em comunidades carentes onde a população tem
deficiência de nutrientes como ferro, zinco e vitamina A e, assim,
combater a deficiência de micronutrientes no organismo humano, conhecida
como ‘fome oculta’, que provoca doenças como anemia e cegueira noturna.
O
Maranhão já evoluiu consideravelmente os projetos de biofortificação de
alimentos com as culturas do feijão-caupi (Aracê), mandioca (BRS Jari),
milho (BRS 4104) e batata-doce (Beauregard). Os alimentos
biofortificados estão em fase de expansão no território dos Cocais,
abrangendo,atualmente, 300 famílias nos municípios de Alto Alegre, Codó,
Caxias, Peritoró, Coroatá, São Mateus, Timbiras, Presidente Dutra e Dom
Pedro.
“O
sistema SAF está trabalhando para transformar a difusão dos alimentos
biofortificados em política pública, pelo fato dos nutrientes
encontrados nessa alimentação serem fundamentais no fortalecimento
nutricional infantil, permitindo, junto com outras práticas saudáveis,
manter um equilíbrio na alimentação a ponto de se perpetuar até a fase
adulta”, explicou o secretário de Estado da Agricultura Familiar (SAF),
Adelmo Soares.
O
secretário informou que a intenção do Governo do Estado
é multiplicar sementes para distribuir aos agricultores familiares para
que eles passem a cultivar e consumir os alimentos biofortificados. A
proposta é que a produção seja inserida em canais de comercialização
como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de
Alimentação Escolar (Pnae), garantindo o escoamento e melhora nas
condições nutricionais e de vida da população.
A
agricultora familiar de Alto Alegre do Maranhão, Antônia Lucia Carvalho
conta que, no início, foi difícil a comercialização dos produtos já que
era algo desconhecido entre a população. Ela adotou medidas para
diferenciar os alimentos e torná-los mais atrativos. “Conheci os
biofortificados em um dia de campo, em Codó, e me interessei em
experimentar. Por ser um produto novo, precisei me adaptar para que
conseguisse vender e obter uma renda; então comecei a fazer produtos
derivados, como caldos, doces e até escondidinho de batata
biofortificada, e o sucesso foi total”, explicou Antônia Lucia Carvalho.
O
presidente da Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e de Extensão
Rural do Maranhão (Agerp), Júlio César Mendonça, explicou que
os alimentos biofortificados são importantes para combater a desnutrição
e a insegurança alimentar, principalmente no meio rural. “É meta do
Governo do Estado alcançar essas famílias que vivem em vulnerabilidade
alimentar com a ampliação da produção dos biofortificados”, ressaltou.
Recomendações
De
acordo com explicação de Jorge Ríos Castillo, nutricionista vinculado a
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO),
todo sistema produtivo agropecuário deve levar em conta os temas de
deficiências nutricionais. “Está bem documentado que existe uma relação
direta entre a desnutrição crônica, as deficiências de micronutrientes e
os problemas na fase adulta. As enfermidades crônicas que,
infelizmente, muitos acabam por adquirir na fase adulta, possuem
vestígios que vêm desde os primeiros anos de vida”, afirmou.
Segundo
Jorge Ríos Castillo, trabalhos com biofortificação têm desenvolvido o
cenário socioeconômico nacional do meio rural e o quadro internacional,
principalmente no continente africano, impulsionado acordos de
cooperação internacional para a agricultura e nutrição. Para Castillo,
os esforços para aumentar os teores de micronutrientes de alimentos
básicos, diretamente pela biofortificação, são particularmente
promissores.
Rede BioFORT
O
Brasil tem se destacado num aspecto diferenciado dos demais países no
desenvolvimento de biofortificação. É o único país onde são conduzidos,
ao mesmo tempo, trabalhos com oito culturas diferentes: abóbora, arroz,
batata-doce, feijão, feijão-caupi, mandioca, milho e trigo.
Outro
diferencial é que, no Brasil, a unificação dos projetos científicos com
alimentos biofortificados atende pelo nome de Rede BioFORT que, além do
incentivo federal e de instituições de pesquisa, recebe suporte
financeiro de organizações internacionais como Fundação Bill e Melinda
Gates, Banco Mundial e HarvestPlus.
A
Rede BioFORT tem obtido relevantes resultados nas regiões Nordeste,
Sudeste e Sul do Brasil, onde já possui, aproximadamente, 18 mil
produtores com acesso a pelo menos um desses cultivares. Liderada pela
coordenadora do HarvestPlus América Latina e Caribe, Marília Nutti,
também pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, a Rede
BioFORT ainda alcançou o expressivo número de 120 Unidades
Demonstrativas implantadas até o fim de 2015 nessas regiões, onde o
material coletado é destinado à merenda escolar e para as famílias de
produtores rurais dos municípios conveniados.
Fome oculta
A
fome oculta atinge uma a cada três pessoas ao redor do Mundo. Segundo
os últimos dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO), 48% das crianças no mundo com menos de cinco anos de
idade apresentam anemia (deficiência de ferro) e 30% possuem deficiência
em vitamina A. No Brasil, os números também são altos, tendo 55% das
crianças com menos de cinco anos de idade apresentando deficiência de
ferro e 13% com deficiência em vitamina A.
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