A primeira dose de vacina contra covid-19 foi aplicada no Brasil
neste domingo (17), após a aprovação pela Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) do uso emergencial da CoronaVac. A primeira pessoa
vacinada no país é a enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, moradora
de Itaquera, com perfil de alto risco para complicações da covid-19.
“O senhor não tem noção da minha felicidade”, disse Mônica ao
governador João Doria, antes de tomar a vacina. “Dez meses de
sofrimento.”
Mônica é obesa, hipertensa e diabética. Apesar de se enquadrar nessas
condições, em maio do ano passado, no auge da primeira onda da doença,
ela se inscreveu para vagas de CTD (Contrato por Tempo Determinado),
escolhendo trabalhar no Emílio Ribas, no epicentro do combate à
pandemia. Ela trabalha em turnos de 12 horas, em dias alternados, na UTI
do Emílio Ribas, hospital de referência para casos graves da doença. O
setor tem 60 leitos exclusivos para o atendimento a pacientes com
coronavírus, com taxa de ocupação média de 90%.
“Não é apenas uma vacina. É o recomeço de uma vida que pode ser
justa, sem preconceitos e com garantia de que todos nós teremos as
mesmas condições de viver dignamente, com saúde e bem-estar”, afirmou a
enfermeira.
Quando começaram os testes clínicos da vacina Coronavac pelo
Instituto Butantã, ela também se voluntariou para os testes. No começo
deste ano, ela contou em reportagem ao site do Coren (Conselho Regional
de Enfermagem de São Paulo) que já tinha tomado duas doses e não teve
nenhum tipo de reação. “Sou monitorada periodicamente. Além disso, há um
canal do WhatsApp pelo qual entram em contato semanal comigo”,
explicou. Como ela foi escolhida agora para tomar a vacina, pode-se
imaginar que ela tinha tomado placebo.
Antes de fazer faculdade de Enfermagem, Mônica atuou como auxiliar da
área por 26 anos. O diploma foi obtido aos 47. “Quem cuida do outro tem
que ter determinação e não pode ter medo. É lógico que eu tenho me
cuidado muito a pandemia toda. Preciso estar saudável para poder me
dedicar. Quem tem um dom de foicuidar do outro sabe sentir a dor do
outro e jamais o abandona,” disse Mônica, de acordo com a assessoria de
imprensa do Emílio Ribas.
A enfermeira é viúva e mora com o filho Felipe, de 30 anos. Seu irmão
caçula, de 44 anos, auxiliar de enfermagem, chegou a se contaminar e
ficou internado por 20 dias com a doença. Ela também cuida da mãe que,
aos 72 anos, vive sozinha em outra casa.
Torcedora do Corinthians, Mônica aproveita as folgas no hospital para
assistir aos jogos do clube de coração. Ela também é fã de de séries de
TV e das canções de Seu Jorge.
No início do ano, ela deu uma entrevista ao Estadão em reportagem que
falava sobre o clima da segunda onda da pandemia entre os trabalhadores
de serviços essenciais. Na ocasião, ela contou que tinha medo da
pressão do aumento de contágio sobre a rede de saúde pública, mas que
estava esperançosa com a vacina. “Na primeira onda, a gente tinha os
hospitais de campanha. Agora está mais complicado”, relatou. A última
unidade do tipo que funcionava na capital paulista era o Hospital do
Ibirapuera, zona sul, foi fechada em 26 de setembro.
“No Pronto Atendimento de São Mateus (zona leste), não temos
estrutura para o paciente ficar internado. Solicitamos vaga e
esperamos”, contou ela sobre o outra unidade de saúde onde trabalha.
Aplicação
Quem aplicou a primeira vacina também é mulher e enfermeira. Jéssica
Pires de Camargo, 30, atua na Coordenadoria de Controle de Doenças e
mestre em Saúde Coletiva pela Santa Casa de São Paulo.
Com histórico de atuação em clínicas de vacinação e unidades de
Vigilância em Saúde, Jéssica já aplicou milhares de doses em campanhas
do SUS contra febre amarela, gripe, sarampo e outras doenças. “Não
esperava ser a pessoa a aplicar esta primeira dose. Isto me enche de
orgulho e esperança de que mais pessoas sejam protegidas da covid-19 e
que outros colegas de profissão possam sentir a mesma satisfação que
sinto ao fazer parte disso”, afirmou.
Por Codó Noticias