Corpo de idoso encontrado em poste é enterrado em Goiânia (Foto: Murillo Velasco/ G1) |
O corpo do carpinteiro Dagoberto Rodrigues Filho, de 68 anos, que foi encontrado dentro de um poste,
foi enterrado por volta das 9h30 desta terça-feira (22) no Cemitério
Vale da Paz, em Goiânia. Devido ao avançando estado de decomposição, não
foi possível fazer um velório antes do sepultamento.
Emocionados, familiares de despediram do idoso. Dagoberto deixa a
mulher, três filhos e quatro netos. "É um sentimento triste. Moramos no
Jardim Europa muito tempo, mais de 20 anos ali em frente ao local em que
ele morreu. Muito ruim isso", disse ao G1 Wilson Rodrigues, filho da vítima.
O carpinteiro foi achado morto no último domingo (20),
no canteiro central da Avenida Viena, no Setor Jardim Europa, em
Goiânia. O poste em que ele estava é usado em redes de alta tensão e tem
uma abertura na parte de baixo. Como estava em avançado estado de
decomposição, o corpo foi identificado por meio de análise de digital.
Filha da vítima, a auxiliar de contabilidade Adriane Rodrigues, de 36
anos, conta que o pai morava com ela, a mulher e o neto no Setor
Aeroporto Sul, em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana. Segundo ela, como o pai tinha um transtorno mental, ele costumava passar vários dias fora de casa.
De acordo com a filha, Dagoberto sempre trabalhou como carpinteiro, mas
há cerca de 17 anos se afastou por causa da doença. "Ele fazia
acompanhamento psicológico, mas não consegui internação para ele. Às
vezes, ele saía e ficava até cinco dias sumido, mas sempre voltava ou
dava um jeito de ligar para a gente buscar", disse ao G1.
Dagoberto Rodrigues Filho foi achado dentro de poste em Goiânia (Foto: Arquivo pessoal/Adriane Rodrigues) |
No último dia 7 de novembro, Dagoberto voltou a sumir, mas, diferente
das outras vezes, não entrou em contato. A família começou a procurar e
ir a clínicas e hospitais, mas não conseguiu nenhuma informação sobre
ele.
Adriane resolveu pedir ajuda nas redes sociais. A família havia morado
por 26 anos no Jardim Europa, bairro onde o corpo foi encontrado. Uma
antiga vizinha viu as fotos na web e ligou para a auxiliar informando do
corpo achado dentro do poste.
Naquele momento, a filha se lembrou de algo que o pai uma vez lhe
disse. "Das vezes em que ele saía, eu perguntava onde ele dormia, que
não precisava daquilo. E uma vez ele confessou que já tinha dormindo
dentro daquele mesmo poste. Na hora, me deu aquele estalo", revela.
Adriane então esteve no local e acompanhou parte do trabalho feito
pelos bombeiros, que tiveram de serrar o poste. Na segunda-feira de
manhã, ela esteve no IML com toda documentação do pai, mas, ainda assim,
não foi possível a identificação. A Polícia Civil só confirmou a
identidade durante a tarde, após análise de digitais.
Poste estava no canteiro central de avenida do Setor Jardim Europa (Foto: Divulgação/Corpo de Bombeiros)Investigação |
A família do carpinteiro acredita que ele possa ter morrido de causas
naturais, mas não descarta a hipótese dele ter sido vítima de um
homicídio. Por isso, pede a investigação do caso.
“A polícia tem de averiguar para sabermos o que realmente aconteceu. O
que me deixou em alerta foi um sinal de queimado no começo do poste.
Pode ter sido que alguém colocou fogo e, apurado, meu pai correu para a
parte mais fina e ficou engastalhado. Mas também ele pode ter passado
mal lá dentro porque é muito abafado”, disse Adriane Rodrigues.
De acordo com a Polícia Civil, o delegado que foi ao local onde
Dagoberto foi encontrado, Francisco Costa Júnior, já tomou as
providências iniciais. A partir desta terça-feira, a Delegacia Estadual
de Investigações de Homicídios deve dar continuidade na apuração do caso
com o delegado Dannilo Proto.
A filha de Dagoberto e a polícia não souberam dizer como o idoso entrou no poste.
Dias antes do corpo ser encontrado, moradores da região já tinham
acionado os bombeiros diante do cheiro forte nas imediações onde a
estrutura estava. Geralda Aparecida da Silva, dona de uma pamonharia que
fica em frente ao local, conta que os fregueses do restaurante já
estavam reclamando do odor. "Muito ruim. Um cheiro muito forte que
incomodava bastante", disse.
Análise de digital ajudou na confirmação da identidade da vítima (Foto: Divulgação/Polícia Civil)Rede de alta tensão |
O poste onde o corpo foi encontrado é um dos que estão deitados nos
canteiros centrais de várias vias da região sudoeste de Goiânia. Eles
foram deixados no local há quase 3 anos para serem instalados nas obras
de expansão de uma rede elétrica de alta tensão, pela Companhia
Energética de Goiás (Celg).
A estatal federal Eletrobras suspendeu a obra há 2 anos, depois que um relatório do Banco Internacional de Desenvolvimento (BID) apontou várias falhas no projeto de implantação da rede. Agora, os moradores do bairro lutam para que as estruturas sejam retiradas.
A Celg informou que ainda não tirou os postes do local porque espera a
obtenção do alvará de construção e renovação da licença ambiental da
Prefeitura de Goiânia para, então, continuar as obras de implantação da
linha de alta tensão. De acordo com a companhia, o sistema é
“imprescindível” para a melhoria do sistema e atendimento aos próprios
moradores.
A comerciante Soraia Petroni denuncia que o lugar tem sido usado por
traficantes de drogas. “Isso daqui já é um ponto de drogas, a gente vê
pessoas deixando coisas aí dentro. De repente, passa outra pessoa e
pega. Isso daqui já virou um ‘aviãozinho’ do Parque Anhanguera”,
reclama.
O comerciante Flávio Ferreira é dono de uma loja que fica bem próximo
aos postes. Ele afirma que a morte é um dos vários problemas vividos
pela população local. “Está aqui abandonado, a Celg deveria, se tivesse
um cuidado maior, esta morte e outras coisas não teriam acontecido”.
Expansão da rede de alta tensão tem causado polêmica em Goiânia (Foto: Reprodução/TV Anhanguera) |
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