Livro de registro do cemitério mostra todas as pessoas enterradas (Foto: Renata Marconi/G1) |
Um dado curioso tem espantado os moradores de Gália,
no interior de São Paulo. O município com pouco mais de 7 mil
habitantes tem exatamente 16.474 pessoas enterradas no cemitério
municipal, uma diferença de mais de 9 mil pessoas. Uma das explicações é
que a região onde é a cidade de Fernão fazia parte de Gália. Nessa
época, a cidade chegou a ter mais de 20 mil habitantes.
Outra explicação é que o registro de mortes era maior na década de 40,
segundo o responsável pela burocracia e administração do cemitério
Dirceu Antônio. “Pelos livros antigos na década de 40, morria umas 50
pessoas por mês. Hoje morrem entre 70 a 90 por ano. Morria muita criança
porque não se tinha muita noção de medicina”, explica.
A cidade foi fundada em 1928 e o distrito de Fernão
emancipou-se de Gália em 1997. Mas até hoje os moradores de Fernão
continuam sendo enterrados em Gália, já que a cidade não tem cemitério.
A aposentada Mikiyo Maeda nasceu em Gália, mas foi para São Paulo
trabalhar. Depois que se aposentou, ela voltou a morar na cidade do
interior e se espantou com a novidade. “Pra mim foi uma surpresa”,
conta. Mikiyo é filha de japoneses que vieram para o Brasil e se
instalaram em Gália para trabalhar na produção de seda, o grande forte
industrial da cidade no século passado.
Ela é uma das pessoas que representa o porquê a cidade, que já teve 20
mil habitantes, esvaziou. Com a crise na produção da seda, as pessoas
foram embora de Gália para trabalhar. Ela voltou pelas raízes que tem em
Gália e se assustou com a notícia do esvaziamento da cidade. “Dá receio
dos jovens estarem saindo da cidade e não permanecerem na cidade e
fazê-la crescer, nós vamos diminuir.”
Luan conta que tem medo de morar em frente ao cemitério (Foto: Renata Marconi/G1) |
Piada
Mas o assunto também virou brincadeira entre os vizinhos do cemitério como o comerciante Luan Gabriel Jerônimo que conta que tem medo de morar ali. “É estranho ter mais gente aqui no cemitério do que na população inteira. É meio fora do comum”, conta.
O jovem ainda diz que costuma ver algo diferente no cemitério. “Às
vezes a gente vê uma movimentação diferente. À noite abre a janela e
estranha, dá medo. Acho que deveria até ter segurança maior porque
qualquer um pode ter acesso direto, um muro maior, já que no cemitério
tem mais gente que na população”, diz.
Já o trabalhador rural Abinoel Pires de Matos, de 60 anos, está bem
esperto para não passar para o outro lado do muro. “Fiquei sabendo que
morre gente todo dia, não para de morrer. Do jeito que está a cidade com
mais mortos do que vivos, provavelmente eu serei o próximo”, brinca.
Vizinhos de cemitério brincam com dado curioso (Foto: Renata Marconi/G1) |
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