Dostoiévsky conta uma
estória, que ele chamou de "Árvore de Natal na Casa de Cristo", em que
uma criança de rua, no frio intenso do inverno russo, sai pelas casas e
observa, de uma das janelas, as luzes de natal, a mesa farta, as
crianças correndo e brincando felizes...e uma mulher o espanta com uma
moeda. O menino recebe e sai pela rua, mas logo é encontrado por uns
meninos maus, que batem nele.
O menino corre e se esconde atrás de uma
pedra. Sente um profundo sono e um conforto naquele lugar. Ouve sua mãe o
chamando. Olha um grande brilho e vê crianças felizes voando e uma
enorme árvore verde brilhando...era a festa na casa de Cristo, para
aquelas crianças que não tiveram natal.
E se a felicidade, a
solidariedade e a bondade do Natal fosse estendida a todos e durasse
mais? Seria algo como queria Carlos Drummond, para quem não seria
difícil imaginar, com o desenvolvimento do homem, que o ano inteiro se
transformasse em Natal. Como ele mesmo dizia em "Cadeira de Balanço":
"Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de
manhã à noite, de uma rua a outra (...) os bens serão repartidos por si
mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da
terra, água, ar e alma (...) A poesia escrita se identificará com o
perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som
(...)."
Talvez isso seja ilusório no mundo de hoje, mas existe
uma utopia possível na ação de cada um. Basta lembrar a lição do
ganancioso e mercenário Scrooge, que inspirou o personagem Tio Patinhas,
em "Um Conto de Natal", de Charles Dickens: "(...) viram diversas
coisas e foram muito longe, visitando muitas casas, sempre com um final
feliz. O Espírito parou ao lado da cama dos doentes, e eles ficaram
contentes; parou ao lado de homens que estavam em terras estrangeiras, e
eles sentiram-se em casa; visitou homens que estavam lutando, e eles
renovaram as suas esperanças; aproximou-se dos pobres, e eles
sentiram-se ricos; nos albergues, hospitais e prisões – em cada lugar
onde havia sofrimento, onde a mesquinha autoridade dos homens não tinha
batido a porta na cara do Espírito de Natal, ele deixou sua bênção, ao
mesmo tempo ensinando a Scrooge a sua lição".
Essa é a lição de
que ter bondade é ter coragem e que a compaixão é fortaleza, como cantou
Legião Urbana. É nesse sentido que, em cada Natal, ao celebrar o nascimento
do menino Jesus, lembramos do convite (Lc 19,1-10), mesmo ante a tantos
obstáculos, para que Ele habite em nossa Casa e faça desse lar o Natal
de todos os dias.
Por Orleans Silva
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