Mesa com a participação de lideres religiosos em diálogo sobre Intolerância Religiosa. (Foto: Lohanna Pausini) |
Nos
últimos dois anos, crimes relacionados à intolerância religiosa
cresceram 45% no Brasil. A temática foi pauta mais uma vez na Fundação
da Criança e do Adolescente (Funac), em evento realizado no Centro
Socioeducativo de Internação Sítio Nova Vida, que reuniu lideranças
religiosas de Matriz Africana, das Igrejas Evangélica, Católica e Santo
Daime.
Na
oportunidade, os líderes religiosos apresentaram os conceitos de suas
respectivas doutrinas em busca do Divino e dialogaram com os
socioeducandos sobre a importância do respeito diante das diversidades
de expressões religiosas existentes no Brasil. Um dos questionamentos
levantados foi sobre a manutenção da laicidade do Estado como medida
para coibir a intolerância religiosa, relembrando que a Constituição
Federal prevê a liberdade de religião e que a Igreja e o Estado estão
oficialmente separados.
“Temos
reforçado essa temática em todos os Centros Socioeducativos, garantindo
a liberdade de culto como parte da assistência religiosa do atendimento
da Funac, que segue as diretrizes do SINASE e regulamentações do
Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA. A Fundação reitera que o
respeito às várias crenças e o zelo pela diversidade religiosa é
imprescindível e uma questão de Direitos Humanos”, enfatizou a
presidente da Funac, Sorimar Sabóia.
Para
Patrício Câmara, professor de Filosofia e representante da Igreja
Evangélica no debate, a intolerância religiosa é uma patologia social
que precisa ser enfrentada com um olhar sensível. “O Brasil é um dos
países onde mais existem casos de intolerância religiosa e isso acaba
perpassando também pelo racismo, como vemos, por exemplo, as religiões
de matriz africana sofrendo diversas perseguições. É preciso diálogo e
eventos como este, para que se possa estabelecer que as divergências
acerca do sagrado, do divino, sejam respeitadas. Confesso que grande
parte das Igrejas evangélicas não possuem interesse nesse diálogo,
porque mantém uma linha de atuação conservadora acerca da centralidade
da adoração do Cristo”, afirmou.
Outro
ponto de destaque foi à exposição feita pelo Pai de Santo Josef, que
atua no Tambor de Mina. Ele pontuou o grande preconceito existente por
parte das demais religiões cristãs diante das religiões de matrizes
africanas. “Cultuamos as forças da natureza e nosso grande interesse é
conhecer todos seus mistérios para melhorar a vida das pessoas. Não
cultuamos demônios, acreditamos no mesmo Deus, mas de forma diferente e
isso precisa ser respeitado”, disse.
Já
para o representante da religião do Santo Daime, Pedro Bessa, a
intolerância religiosa sofrida por parte de seus adeptos é latente,
porque ao fazerem uso da erva Ayahuasca como forma de acessar o divino,
acabam sendo taxados de “drogados”. “O chá da Ayahuasca é sagrado para
nós, porque também cultuamos a natureza e todos os benefícios que ela
nos traz. Quando fazemos uso do chá, não entramos em estado alucinógeno,
entendemos que ele é o fio condutor que nos liga à Deus. É um novo
conceito enquanto doutrina, e, ainda que isso cause estranheza em muitas
pessoas, precisa ser respeitado, porque é a nossa religião, a nossa
doutrina, o que é sagrado para nós”, explicou.
Para
a Pastoral da Juventude, da Igreja Católica, que também participou do
debate, reforçou que as celebrações ecumênicas são uma excelente
iniciativa como forma de combater à intolerância religiosa e que,
eventos como este, são de suma importância para se entender que todas as
manifestações religiosas precisam ser respeitadas. A PJ reforçou também
que a liberdade de culto teve um grande salto, mas que o
fundamentalismo religioso ainda fomenta a intolerância religiosa no
Brasil.
A
diretora do Centro Socioeducativo Sítio Nova Vida, Flavia Andrade,
frisou que a Gestão da FUNAC tem realizado reuniões com lideranças de
religiões de matriz africana e evangélicas, por meio da Direção Técnica e
Coordenação de Programa Sociopedagógicos, para a criação do calendário
de atividades voltadas para a assistência religiosa, respeitando sempre a
religião proferida pelo próprio socioeducando. “Nosso compromisso é
respeitar, através da assistência religiosa, a liberdade de culto de
nossos adolescentes”, concluiu.
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